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24 de Abril de 2024

O "sucesso" das milícias

Ou, como discursos ideológicos de nada adiantam contra a realidade.

Publicado por Cassiano Pastori
há 10 anos

Por Felipe Lomboni

Em um texto meu anterior, falei sobre a ineficiência de um estado que leve a liberdade individual às últimas consequências no conflito israelo-palestino. Em “Guerra: Condição Natural da Humanidade“, tentei argumentar que no caso Israel X Gaza, os argumentos liberais não resistem às diferenças culturais da região. Um povo que não está acostumado a suportar minimamente as diferenças do outro não está pronto para a ter as rédeas soltas.

Agora peço vênia para mudar quase que totalmente de opinião, haja vista que encontro-me na periferia do Estado do Rio de janeiro, onde nasci e cresci. Vamos falar sobre os grupos paramilitares que dominam a região: as milícias. Se no caso de Israel e Gaza é falha uma análise meramente econômica, no caso das periferias do Rio de janeiro – as tão famosas favelas – o interesse pelo dinheiro fez a vida de centenas, e talvez milhares de habitantes, mudar para melhor. Explico.

O que faziam os antigos traficantes? Eram marginalizados, oprimidos pelos brancos moradores da orla, atingidos criminalmente pela concentração de renda? Não, eles apenas exploravam um mercado. O consumo de drogas, os bailes funk, as centrais piratas de TV à cabo, a entrega de gás e qualquer outro abastecimento que supria o comércio das favelas, eram um grande mercado explorado pelos traficantes. Tempos atrás, quando nem se pensava no surgimento das milícias, falava-se em “monopólio natural das drogas”. O que fazia essa gestão ser amplamente perigosa e violenta é devido ao fato de que as comunidades eram divididas por diferentes comandos. Além desses comandos serem inimigos entre si, também eram inimigos das polícias militares cariocas – as quais, desculpe-me os leitores, não tenho o mínimo respeito. Os donos das bocas, como são chamados, viviam em guerra pelo controle dos territórios alheios. Já a PMERJ vivia em guerra pelo maior “arrego” que esses traficantes davam em troca de menos intervenções militares em seus territórios.

Após anos de abandono estatal, alguém ou um grupo de pessoas começou a pensar que esse mercado dava grande lucro e que podia ser explorado empregando-se os meios adequados. Será que os antigos traficantes tinham em mente que o monopólio da exploração do consumo de drogas e do controle das comunidades poderia ser retirado de suas mãos? Duvido. Na economia capitalista (o que acho um pleonasmo) qualquer monopolista deve manter em mente o perigo da concorrência ou do iminente surgimento de uma. Foi então que a mágica da competição aconteceu. “I’ts happening!”, diria Ron Paul. No caso do Rio de Janeiro, os milicianos foram tomando comunidade após comunidade, dominaram o mercado da região e estabeleceram-se, não sem violência, claro. Ademais, espera-se a violência quando qualquer mercado não está “catalogado” como legal. Gangsters mataram-se no passado pelo controle de bebidas alcoólicas, traficantes de cannabis mataram-se e matam-se pelo monopólio da maconha, e, no estado carioca, traficantes e policiais militares matavam-se pelo lucro ou pelo arrego.

Os milicianos têm interesse que seus negócios mantenham a estabilidade, por isso acabam forçando a paz nas comunidades que dominam. Quem morou (como eu) ou ainda mora no Rio de Janeiro, sabe que a violência diminuiu. As balas perdidas e o fechamento do comércio a mando de traficantes também. Ouvi pessoas dizendo que “isso aqui agora é uma casa de família” – frase que me levou a escrever este texto.

Mesmo que mudando quase totalmente de discurso conforme o último artigo, ainda vejo que parte da solução para os conflitos pelo controle das favelas só foi possível quando um outro poder – mais forte e mais organizado – pôde tirar do comando a concorrência. Em todo o caso foi a ambição do homem e o próprio interesse que, no fim das contas, acabou dando condições melhores de vida para os habitantes dessas pobres comunidades.

Fonte: http://jovemreaca.blogspot.com.br/2014/08/o-sucesso-das-milicias-ou-como.html

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/o-sucesso-das-milicias/132757903

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